EDIÇÃO DE TELEJORNAL E IDEOLOGIA
Em uma mesma noite (29/04/2014), no Jornal Nacional, apareceu, primeiro, uma reportagem associando produtividade e tecnologia e, posteriormente, foram tratados os conflitos nas ruas de São Paulo e nos morros do Rio de Janeiro.
Na primeira reportagem, era dito que, diferente dos Estados Unidos, a geração de emprego era razoável no Brasil, o problema, aqui, seriam a eficiência e a produtividade. Embora aumentasse o número de desempregados, a eficiência era necessária porque aumentaria a produtividade. Foi citada uma indústria de carros nos Estados Unidos, que, primeiro, demitiu 40.000 operários e, depois da modernização (com máquinas novas adequadas ao cenário das novas tecnologias), na mesma indústria, 14.000 trabalhadores teriam sido contratados. Existe uma grande diferença entre 14.000 e 40.000 empregos, o que seria justificado pelo representante da indústria como o preço da “dura realidade”.
Não foi o caso, mas se essa indústria tivesse demitido “só” 26.000 funcionários, o fato, em si, já seria algo muito grave do ponto de vista social, porque, o que não é falado, é que 26.000 trabalhadores normalmente significaria 26.000 famílias, o que aumentaria em muito o número total e a crise para a sociedade.
A questão central é essa: para ter eficiência, é reduzido bastante o número de trabalhadores com o investimento em tecnologia e… o que aconteceria com os trabalhadores excluídos, já que, neste modelo, não existiriam vagas para todos?
O problema do desemprego permanece nos Estados Unidos assim como na Europa. Em nome da eficiência, é dito que o mercado precisaria de trabalhadores mais qualificados. Entretanto, esses (poucos) mais qualificados e contratados não receberão bons salários. Em alguns países da Europa, mesmo depois de formados e contratados, muitos jovens ainda não podem sair das casas dos pais por causa da renda mensal que recebem.
As pessoas, que antes eram incentivadas a usar o crédito e a fazer compras de carros e casas a partir de longos financiamentos, depois que perdem os empregos, perdem também as suas moradias e os seus bens materiais e vão morar nas ruas – como os indivíduos que deixaram de ser da classe média e passaram a morar nas ruas de Lisboa.
Os protestos em São Paulo hoje, noticiados pelo Jornal Nacional, foram organizados exatamente por aqueles que são chamados de “sem teto”. São tantas pessoas (e por ser um problema do sistema econômico) que existe até uma entidade, o MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto.
A violência no Rio estaria associada aos traficantes que estariam contra a criação das chamadas UPPs – Unidades de Polícia Pacificadora (trata-se de uma questão mais complexa porque existem muitos moradores das comunidades cariocas que denunciam as ações dos policiais e são contra as UPPs).
Em resumo, na primeira parte do Jornal Nacional, é feito o elogio da eficiência e omitido a importância da geração de empregos, numa segunda parte, são relatados os problemas de pessoas que não têm onde morar ou que moram em lugares inadequados. As notícias são mostradas como se uma coisa não tivesse nada a ver com a outra. Na edição, no fundo, é passada a mensagem de quem é qualificado e eficiente estaria empregado e quem não consegue emprego mora nas ruas ou nos morros e só cria confusão.
Em outras palavras, o que seria uma falha do modelo econômico capitalista torna-se um problema individual (sendo que esse indivíduo se sente fracassado e merecedor da punição policial por não ter conseguido um emprego e uma casa decente).
(*) Obs.: Não sou daqueles que defendem o suposto fim do monopólio das comunicações feito pela Rede Globo (esse discurso parece coisa dos governantes totalitários da Venezuela). Essa luta teria sentido, talvez, na década de 1970, época da ditadura militar. Hoje, com a internet, as outras redes de TV “aberta” e os canais pagos, este tipo de bandeira tornou-se um oportunismo de políticos populistas que desejam censurar a imprensa.
Em uma mesma noite (29/04/2014), no Jornal Nacional, apareceu, primeiro, uma reportagem associando produtividade e tecnologia e, posteriormente, foram tratados os conflitos nas ruas de São Paulo e nos morros do Rio de Janeiro.
Na primeira reportagem, era dito que, diferente dos Estados Unidos, a geração de emprego era razoável no Brasil, o problema, aqui, seriam a eficiência e a produtividade. Embora aumentasse o número de desempregados, a eficiência era necessária porque aumentaria a produtividade. Foi citada uma indústria de carros nos Estados Unidos, que, primeiro, demitiu 40.000 operários e, depois da modernização (com máquinas novas adequadas ao cenário das novas tecnologias), na mesma indústria, 14.000 trabalhadores teriam sido contratados. Existe uma grande diferença entre 14.000 e 40.000 empregos, o que seria justificado pelo representante da indústria como o preço da “dura realidade”.
Não foi o caso, mas se essa indústria tivesse demitido “só” 26.000 funcionários, o fato, em si, já seria algo muito grave do ponto de vista social, porque, o que não é falado, é que 26.000 trabalhadores normalmente significaria 26.000 famílias, o que aumentaria em muito o número total e a crise para a sociedade.
A questão central é essa: para ter eficiência, é reduzido bastante o número de trabalhadores com o investimento em tecnologia e… o que aconteceria com os trabalhadores excluídos, já que, neste modelo, não existiriam vagas para todos?
O problema do desemprego permanece nos Estados Unidos assim como na Europa. Em nome da eficiência, é dito que o mercado precisaria de trabalhadores mais qualificados. Entretanto, esses (poucos) mais qualificados e contratados não receberão bons salários. Em alguns países da Europa, mesmo depois de formados e contratados, muitos jovens ainda não podem sair das casas dos pais por causa da renda mensal que recebem.
As pessoas, que antes eram incentivadas a usar o crédito e a fazer compras de carros e casas a partir de longos financiamentos, depois que perdem os empregos, perdem também as suas moradias e os seus bens materiais e vão morar nas ruas – como os indivíduos que deixaram de ser da classe média e passaram a morar nas ruas de Lisboa.
Os protestos em São Paulo hoje, noticiados pelo Jornal Nacional, foram organizados exatamente por aqueles que são chamados de “sem teto”. São tantas pessoas (e por ser um problema do sistema econômico) que existe até uma entidade, o MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto.
A violência no Rio estaria associada aos traficantes que estariam contra a criação das chamadas UPPs – Unidades de Polícia Pacificadora (trata-se de uma questão mais complexa porque existem muitos moradores das comunidades cariocas que denunciam as ações dos policiais e são contra as UPPs).
Em resumo, na primeira parte do Jornal Nacional, é feito o elogio da eficiência e omitido a importância da geração de empregos, numa segunda parte, são relatados os problemas de pessoas que não têm onde morar ou que moram em lugares inadequados. As notícias são mostradas como se uma coisa não tivesse nada a ver com a outra. Na edição, no fundo, é passada a mensagem de quem é qualificado e eficiente estaria empregado e quem não consegue emprego mora nas ruas ou nos morros e só cria confusão.
Em outras palavras, o que seria uma falha do modelo econômico capitalista torna-se um problema individual (sendo que esse indivíduo se sente fracassado e merecedor da punição policial por não ter conseguido um emprego e uma casa decente).
(*) Obs.: Não sou daqueles que defendem o suposto fim do monopólio das comunicações feito pela Rede Globo (esse discurso parece coisa dos governantes totalitários da Venezuela). Essa luta teria sentido, talvez, na década de 1970, época da ditadura militar. Hoje, com a internet, as outras redes de TV “aberta” e os canais pagos, este tipo de bandeira tornou-se um oportunismo de políticos populistas que desejam censurar a imprensa.